domingo, 29 de abril de 2007

NOVIDADES

Brasil é 4º emissor de gases de efeito estufa do planeta, aponta relatório. Mais de 70% do índice de CO2 são gerados pelo desmatamento da Amazônia

Da Redação
DATA - 30 Abr 2007
FONTE - Módulo News


O Painel Intergovernamental de Mudança Climática (IPCC, na sigla em inglês) se reúne nesta segunda-feira, 30/04 em Bangcoc, na Tailândia, para concluir o texto da terceira parte do seu 4º relatório sobre mitigação. O painel já lançou neste ano duas partes do relatório - uma sobre evidências científicas e outra sobre os impactos das mudanças climáticas.
De acordo com o quarto relatório do IPCC, os impactos das mudanças climáticas no mundo, na América Latina e especificamente no Brasil são preocupantes. O Brasil é o quarto maior emissor de gases de efeito estufa no planeta. Mais de 70% das emissões brasileiras de gás carbônico (CO2) vêm do desmatamento da Amazônia. "O Brasil precisa fazer de tudo para reduzir a zero as taxas de desmatamento se quisermos ter alguma chance de salvar a Amazônia e o planeta", diz Paulo Adario, coordenador da campanha da Amazônia do Greenpeace. "Temos no máximo 10 anos para fazer essa lição de casa", enfatiza.
O relatório da Organização das Nações Unidas para a Agricultura e Alimentação alerta que o desmatamento ocorrido no Brasil entre 2000 e 2005 responde por 42% da perda líquida de áreas florestais no mundo. Nesse período, o país eliminou uma média de 31 mil km2 de florestas a cada ano, incluindo todos os biomas. Em cinco anos, uma área do tamanho do Estado do Acre teria sido desmatada no Brasil, pouco mais de 150 mil km2.
Mitigação
O novo relatório do IPCC sobre mitigação aglomera vasta literatura científica sobre as opções existentes para diminuir as emissões de CO2. O Greenpeace, em parceria com o Conselho Europeu de Energias Renováveis lançou em fevereiro o estudo Revolução Energética, que detalha como o mundo pode conquistar uma matriz energética limpa e renovável até 2050. No capítulo dedicado ao Brasil, elaborado em parceria com a USP, o relatório demonstra como o país pode crescer reduzindo gradualmente fontes sujas como o carvão e a energia nuclear.
A energia nuclear não é considerada uma tecnologia futura no cenário da Revolução Energética porque, embora as usinas produzam menos dióxido de carbono do que a queima de combustíveis fósseis para gerar energia, seu funcionamento causa diversas ameaças às pessoas e ao meio ambiente, e também porque o ciclo de produção desta energia como um todo contribui para o aquecimento global.
Os principais riscos são a proliferação nuclear, o lixo nuclear e os riscos à segurança. De todas as opções de geração de energia existentes atualmente, a nuclear é a mais cara. Com os R$ 7,4 bilhões previstos para construir Angra 3, por exemplo, é possível criar um parque de turbinas eólicas com o dobro da potência prevista para essa nova usina nuclear (1.350 mW), gerar 32 vezes mais empregos e não produzir lixo radioativo ou representar risco de acidentes graves.

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Prezados Ecorealizadores:

Segue a manifestação que me chega do Rualdo Menegat, autor do Atlas Ambiental e professor do Instituto de Geociências da Ufrgs, feita no último dia 18/04/2007, na Audiência Pública para tratar do tema da preservação ambiental na Comissão de Economia e Desenvolvimento da Assembléia do RS.

Julgamos o texto anexo extremamente relevante para o debate em torno da compatibilização entre crescimento econômico e preservação do meio ambiente que vai ser tema de seminário naquela Comissão brevemente.

Um abraço fraterno em todos!
Por um mundo melhor e por um "Rio Grande mais Alegre"!

Movimento Higienópolis Vive!

O USO DA ÁGUA E O APAGÃO AMBIENTAL DO ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL
Rualdo Menegat (*)

Sei que tenho hoje aqui uma tarefa muito difícil a cumprir: a de compartilhar com os deputados do povo gaúcho, demais autoridades e público aqui presentes uma avaliação científica sobre o uso da água e o desenvolvimento do nosso estado. A dificuldade reside no fato de que o tema da água é interdisciplinar, e, mesmo, transdisciplinar. Temos que olhá-lo sob o ponto de vista da Geologia, meu caso, mas também da Botânica, Zoologia, Agronomia, Antropologia, Economia, Direito, Arquitetura e Engenharias, e, ainda, da Sociologia, Filosofia, História, Artes e Religião.
Mais além, a água é um tema transcultural e diz respeito a todas as culturas e tradições humanas de todas as épocas, históricas e pré-históricas. No Brasil, especialmente a cultura dos índios, construída a partir de uma particularíssima relação da cognição humana com densas florestas e rios, espetáculos da diversidade planetária.
Temos dificuldade de entender as culturas das florestas, porque nossa visão ocidental de civilização está relacionada com a capacidade que alguns grupos humanos tiveram não de domesticar cabras, porcos, trigo e cevada no início do Neolítico nas montanhas da Anatólia, mas de domesticar rios. Os sumérios, os hindus, os chineses e os egípcios antigos construíram cidades em planícies inundáveis nas margens de rios, domesticando-os e, assim, conhecendo os ritmos mais profundos da natureza a partir do conhecimento que iam acumulando com os ciclos fluviais das águas. Assim nasceram as civilizações: em meio ao barro e à água. Segundo os mitos desses povos, às vezes os deuses ficavam mal humorados e enviavam terríveis secas para infortúnio de todos, mas em seguida retornava um ciclo de bem-aventurança, para depois, advir outro de colossais enchentes, inclusive a do dilúvio de Noé. Assim foi forjado o espírito de muitas civilizações: pelos ciclos de fúria e mansidão das águas dos rios.
O surgimento da civilização, isto é, do trinômio cidade-escrita-roda, há cerca de 4 mil anos a.C., já está muito distante da nossa memória urbana contemporânea. Nos dias atuais, domesticamos não só os rios e os ciclos hidrológicos, mas também os solos, as florestas, os animais, as bactérias, as montanhas, os pólos e os mares; alcançamos, ainda, a Lua, os mais profundos abismos oceânicos, deciframos o centro da Terra e enviamos artefatos para Marte, Júpiter, Saturno e, mesmo, para além do sistema solar.
Nossas cidades contemporâneas constituem-se em nossa segunda natureza, quer dizer, reúnem um tal grau de complexidade e gigantismo que estamos dentro delas no mesmo sentido que os humanos do Neolítico estavam dentro da natureza. Agora, é a cidade que está dentro da natureza. E nós? Nós estamos dentro da cidade, isto é, nossa relação com a natureza já não é mais ingênua como a dos antepassados, mas feita por meio de complexos aparatos industriais-eletro-mecânicos-químicos-atômicos-subatômicos da urbe. Já manipulamos forças e energias que não são dos ecossistemas da Terra, mas aquelas encontradas nas estrelas, como o Sol, no caso da energia atômica.
Os aparatos industriais urbanos têm gerado diariamente uma quantidade impressionante de resíduos de todos os tipos: sólidos, líquidos e gasosos, perigosos e muito perigosos. Quase já nos acostumados a ouvir acerca de catástrofes industriais, como a Chernobyl, como do vazamento de óleo no Alaska, e também, na baía Guanabara, ou a recente mortandade de peixes no rio dos Sinos. Esses acidentes parecem ser inevitáveis diante da fúria das cidades e, o mais paradoxal de tudo isso, é que a maioria deles afeta a água dos mananciais que são utilizados para o abastecimento dos cidadãos. Isso é, estamos contaminando a nós mesmos numa escala sem precedentes. Estranhamente nos dias de hoje civilizar, isto é, desenvolver e progredir, não significa mais domesticar rios, mas sim contaminar a água, a atmosfera e destruir ecossistemas, a base da vida.
No nosso querido Rio Grande do Sul, com dificuldade nos damos conta da situação presente. Dificuldade que advém não de nossa incapacidade de diagnosticar, mas, talvez, de nossa herança cultural. Somos uma cultura jovem, isso é, nossas raízes, exceto a indígena, estão fincadas logo ali, nos séculos XVIII, a açoriana, bandeirante e africana, e XIX, a alemã, italiana, polaca, entre outras. Isso quer dizer que não precisamos fazer muito esforço de memória para nos lembrar das histórias e dos modos de vida de nossos avós, bisavós e tataravós.
Ainda me lembro de meu avô me oferecendo uma caneca de água retirada de uma fonte jorrando sobre um leito rochoso próximo a uma mata e dizendo com grande entusiasmo: "beba, é a mais pura água cristalina da Terra". Esses nossos antepassados recentes poderiam reconhecer, pelo sabor da água, o lugar de onde ela provinha: o sabor da água do arenito dos vales do Caí e dos Sinos, do basalto da região da serra e do planalto, do granito da fronteira de Bagé ou de Porto Alegre. Nós ainda pensamos que a água do Rio Grande do Sul está cristalina, como nossos antepassados naturalmente a bebiam.
Mas essas lembranças, embora ainda tão fortes em nossa memória, estão longe de ser a realidade que aí está. Essa é a nossa dificuldade. A cultura recente que herdamos de nossos antepassados não sabe lidar com grandes e complexos centros industriais, como os da Região Metropolitana de Porto Alegre e de Caxias do Sul. Não sabe lidar com uma agricultura feita em escala agro-industrial, realizada às expensas de muito veneno lançado sobre o solo e as plantações. Não sabe lidar com florestamentos devastadores de pinus ou eucaliptos.
Então, temos uma tendência cultural otimista e até ingênua em relação aos impactos que esse chamado ‘progresso’ produz na natureza, na água. Assim, a contaminação passa a ser vista como denúncia infundada de ambientalistas que são contra o desenvolvimento.
Nós não tivemos em nossa cultura, por exemplo, uma Madame Curie, ganhadora do prêmio Nobel que, para descobrir o elemento radiativo Plutônio, ficava mexendo em tachos borbulhantes que respingavam em seus braços. Por ser um material muito tóxico, ela contraiu câncer e faleceu por causa disso. A França e a Europa, sabem desde sempre os perigos da contaminação radioativa e química. Nós aqui no Brasil, estamos acostumados a aplicar os produtos que eles desenvolvem e achar que, por isso, estamos seguros.
Mas na universidade, somos treinados a ver a realidade sob diferentes perspectivas, de sorte a nos ajudar a corrigir as possíveis distorções que nossa paixão ou herança imediata colocam. Não somos os donos da verdade, mas nossos pareceres se embasam em diagnósticos amplos e profundos que, às vezes, contrariam o senso comum de nossa herança cultural.
E qual o diagnóstico? Infelizmente, não tenho boas notícias. Existem muitos estudos e eu não tenho tempo de relatá-los aqui e sequer tenho a pretensão de apresentar um diagnóstico amplo, o qual precisaria de um enorme esforço de especialistas de todas as áreas já citadas acima. Quero apenas ilustrar com três exemplos.
O primeiro vem da produção agropecuária. Da suinocultura e avicultura. Nós gaúchos estamos todos muito orgulhosos dessa atividade exportadora de nossa economia. Anualmente, são exportadas mais de vinte mil toneladas de carne suína de primeira qualidade. Não paramos para perguntar quantas toneladas de suínos vivos é preciso para que vinte mil toneladas de carne de primeira sejam exportadas. E, além disso, para perguntar quanto excrementício essa manada produz. O mesmo vale para a avicultura. Não temos um controle e práticas para o tratamento de todo esse excrementício, que na maior parte dos casos é jogado sobre o solo ou utilizado sem cuidado como adubo.
Qual o resultado? Os aqüíferos estão sendo contaminados por coliformes fecais numa escala impressionante. Grande parte da produção de suínos feita na região do planalto, ocorre em zonas de nascentes de nossos rios. Imaginem o desastre ecológico que está ocorrendo: as nascentes e os aqüíferos dessas regiões estão sendo contaminados por coliformes fecais. Não podemos mais beber água cristalina nessas regiões.
Algumas populações que dependem de poços, precisam adicionar cloro na água, que, acaba ficando com gosto de "água da cidade". Por essa razão, muitas comunidades não querem adicionar cloro e, com isso, estão se contaminando, aumentando os problemas de saúde.
O mesmo poderíamos dizer em relação às lavouras, que, como a suinocultura e avicultura, já estão distantes da produção de subsistência da época dos avós. Hoje, são lavouras agroindustriais, quer dizer, feitas com uso de poderosos fertilizantes e herbicidas. O problema não é apenas o uso desses venenos, mas o fato de que tudo é feito sem medida e controle. É comum o agricultor caprichar na dose do agrotóxico para garantir o efeito. Porém, estão lidando com produtos de alta toxidez.
Alguém poderia argumentar: mas existem os Comitês das Bacias Hidrográficas, um belo programa de controle do uso dos recursos hídricos previsto pela legislação. Como estão funcionando esses Comitês? Em geral, de forma muito precária. Na maior parte dos casos, eles não tem tido capacidade de interferir, diagnosticar e gerar cultura para o uso adequado dos recursos hídricos. Eles não tem tido apoio técnico suficiente para que possam ter um retrato da situação e fazer valer a legislação.
O segundo exemplo diz respeito a uma atividade econômica que já existe em nosso estado mas que ganhou grande destaque nos jornais nos últimos dias: a sivicultura, cujo florestamento com eucaliptos é anunciado como a salvação da parte sul do Estado.
Como sabemos, essa região é dominada por campos naturais. Por que razão não se desenvolveram ali exuberantes florestas, a exemplo da Mata Atlântica? Por que não há abundância de água. Quando há pouca água e temperaturas mais baixas, desenvolvem-se campos e estepes, como no Pampa e na Patagônia. Aqui no Rio Grande, porque há um pouco mais de água que o Pampa e a Patagônia, desenvolveram-se com o campo matas ribeirinhas, formando um mosaico que o saudoso botânico Bruno Irgang chamava de savanóide. Pois bem, se essa região que possui naturalmente pouca água for florestada com espécies que absorvem muita água, como o eucalipto, e isso foi demonstrado por inúmeras experiências científicas, o nível do lençol freático vai baixar e, com isso, os rios vão ficar mais secos e as matas ribeirinhas vão fenecer, junto com a fauna. Essa atividade econômica colocada de forma indiscriminada e sem controle, vai mudar o atual balanço hídrico da região, tendendo a aumentar o problema da seca e, por conseguinte, do abastecimento de água nas cidades, onde vive a maior parte dos cidadãos. Como vemos, os problemas do campo e da cidade são interligados.
O terceiro exemplo diz respeito aos grandes complexos industriais-urbanos, como da Região Metropolitana de Porto Alegre. Essa região situa-se num lugar privilegiado: às margens do lago Guaíba e de quatro rios caudalosos. A saúde da população de quase quatro milhões de pessoas depende da qualidade dessas águas, em cuja região está instalado um potente parque de indústrias (petroquímica, celulose, refino de petróleo, curtumes, metal-mecânica, alimentos, fertilizantes, etc.) com altíssimo poder de contaminação. Aí está o ponto mais vulnerável da qualidade de vida desse contingente populacional. Um grande desastre industrial que contaminasse o lago Guaíba, deixaria toda Porto Alegre sem abastecimento de água durante um bom período de tempo. Seria um caos inimaginável.
A única maneira de prevenir uma catástrofe dessas proporções é pela efetividade do sistema de gestão ambiental pública, onde os órgãos responsáveis tenham capacidade de fiscalizar com base em leis adequadas. Do contrário, o desenvolvimento implicaria em diminuir a qualidade de vida dos cidadãos e deteriorar os ecossistemas naturais.
O desastre que ocorreu recentemente no rio dos Sinos, onde foram recolhidas mais de 100 toneladas de peixes mortos, demonstra de forma inequívoca que o sistema de gestão ambiental de nosso estado está colapsado.
Perdemos a competência e o vanguardismo que nos orgulhou em outras épocas. O Programa Pró-Guaíba, por exemplo, está pálido e já não se faz notar. Enquanto isso, os problemas nos rios na Região Hidrográfica do Guaíba se intensificaram, seja pelo aumento da industrialização; seja por barragens, usinas hidrelétricas e desmesuras no uso da água para irrigação; seja, ainda, por agrotóxicos e pelo enorme incremento da suinocultura e avicultura, como abordei acima.
Precisamos rapidamente tomar consciência da situação que está em curso. A gravidade dela pode ser demonstrada com o exemplo dessa catástrofe recente. Muitos podem considerar isso um "acidente". Mas quero aqui dizer que não se trata de um acidente, que a contaminação de nossos mananciais já se encontra em níveis muito comprometedores.
Poderia relatar aqui as conclusões de várias teses doutorais. Eles dão conta que as águas dessa região estão contaminadas não apenas por efluentes domésticos, mas por perigosos metais pesados, como o cromo, o mercúrio e o chumbo. Para avaliar o grau de contaminação das águas, pode-se utilizar como parâmetro o grau de contaminação dos peixes. Em alguns casos já comprovados, não são apenas as vísceras que estão contaminadas com cromo e mercúrio, mas a própria carne dos peixes. Isso quer dizer que eles não se contaminaram num evento pontual, mas sim de forma sistêmica. Há indícios de que os peixes do lago Guaíba estejam sofrendo mutagênese, devido à ingestão de metais pesados.
Donde retiramos a água para abastecer mais de quatro milhões de pessoas? Desses mananciais. Como vem sendo tratada essa água? Com métodos que remontam o início do século XX, isso é, da época de nossos avós. Não temos um sistema de tratamento que dê conta da situação presente, ou seja, de uma água contaminada por metais pesados e outros poluentes perigosos, como os organoclorados. Onde vamos parar? Nos hospitais, nessa espécie de medicina industrial que não pára de crescer devido ao nosso descaso com a contaminação da água e do meio ambiente.
Ainda no final da década de 70 assisti a uma conferência do saudoso José Lutzember, feita aqui no auditório Dante Barone da Assembléia Legislativa. Ele gostava de utilizar figuras de impacto e, naquela oportunidade, estava referindo-se à contaminação do Guaíba. Disse que em um litro d’água do lago, haveria de ter duas colheres de excrementício humano. Lembro que a platéia ficou horrorizada.
Passados quase trinta anos, podemos dizer que nossos problemas se agravaram muitíssimo. Hoje, em um litro talvez seja possível que contenha duas colheres de água. O pior, é que já não é mais esse o ‘xis da questão’. Para utilizar uma imagem metafórica, pode-se dizer que o problema é que deve haver "meia colher de metais pesados", muito tóxicos, como o mercúrio, o cromo e o chumbo. Se eu disser que são concentrações em partes por milhão, as pessoas vão achar que é pouca coisa. Mas ocorre que basta uma pequena concentração desses elementos para arruinar a saúde humana.
E os processos de tratamento d’água utilizados nas cidades são arcaicos, não dão conta da situação. Donde os porto-alegrenses vão tirar água para seu consumo? Pergunto, então, aos excelentíssimos deputados: há no orçamento do Estado 400 milhões de dólares disponíveis para que Porto Alegre possa captar água no Jacuí, distante das grandes plumas de contaminação?
As gerações de nossos avós e bisavós foram heróicas. Trabalharam muito, desenvolveram muito. Em geral, as gerações seguintes conseguiram melhorar o nível de vida. Porém, no futuro próximo, grande parte da riqueza acumulada durante gerações deverá ser gasta para remediar os graves danos ambientais. O problema é quem vai pagar a conta? As grandes empresas poluentes tem seus mecanismos de escape e os custos serão pagos pelo cidadão. Eles vão exigir do estado e, o estado, não terá como resolver tal conta. Já não está conseguindo.
As grandes crises civilizatórias, não foram crises geradas por guerras entre civilizações. A Suméria era uma civilização muito forte, mas a crise ambiental que experimentou devido ao esgotamento dos oásis onde estavam situadas suas cidades levou-a a um enfraquecimento e desorganização social. Foi nesse momento que os hindus a atacaram, num momento de fraqueza e desordem social interna.
Nossa civilização se enfraquece dia após dia na medida em que não sabe utilizar de forma parcimoniosa e sustentável os recursos naturais, principalmente a água. Quando falamos de futuro, estamos falando de nossos filhos e nossos netos. Não podemos legar a eles um passivo ambiental impagável. Não podemos legar a eles a impossibilidade de degustarem a água cristalina de nossa terra. Se eles não conseguirem mais perceber o sabor da água da terra, nossa cultura inteira enfraquecerá e não teremos mais nada do que nos orgulhar.

(*) Professor do Instituto de Geociências da UFRGS.-

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